O Pescador andava no seu barco pequenino, ao sabor das ondas, pelas águas de Sesimbra.
Há mais de cinco dias que não apanhava nada, lançava as redes, esperava, recolhia-as e nada.
Regressava a casa de cabeça baixa e triste. No entanto, ao chegar, o seu rosto iluminava-se com a recepção dos seus filhos.
- Diz-me Pai, apanhaste um Tubarão grande e feroz? Dizia o mais novo.
- Ou um Polvo gigante das profundezas? Com o qual tiveste de lutar, com os seus longos e fortes tentáculos? Dizia o mais velho.
O Pescador respirava fundo, engolia em seco e respondia:
- Hoje tive de lutar com gigantes serpentes marinhas, que afastaram os peixes da minha rede!
Depois, entravam na humilde casa. A mãe estava junto ao fogão e no ar pairava um cheirinho delicioso. Estava a preparar um caldinho. Lavavam as mãos e sentavam-se à mesa, um de cada lado do Pai.
No outro dia, lá ia novamente o Pescador, expectante e esperançoso para a faina. O mar estava muito agitado e no ar as gaivotas barulhentas voavam de um lado para o outro. Entrou no seu barquinho e lá foi. Depois de ter remado durante uma hora, parou junto de uma pequena arriba abrigada e lançou as redes. Esperou, esperou e passado um bom bocado começou a puxar lentamente a rede. À medida que puxava a rede o desânimo aumentava, não vinha nada, nada. Continuou a puxar e já mesmo no fim da rede vinha uma Petinguinha pequenina e brilhante.
O Pescador, triste, olhou para o pequeno peixe aos pulos dentro do barco a debater-se pela vida.
Pegou num frasco vazio que tinha dentro do barco, encheu-o com água salgada e pôs a Petinga lá dentro, que saltitava e rodopiava de um lado para o outro. Depois colocou as mãos sobre o rosto e começou a chorar.
A sua pele estava queimada do sol e da água salgada. As mãos calejadas tremiam.
Só se ouvia o som do mar, calmo e suave.
Pegou no frasco e olhou para a petinga, que não se mexia e olhava-o fixamente.
-Vou levar-te para casa!
Pousou o frasco no fundo do barco, arrumou as redes e começou a remar para terra.
Quando chegou a casa os filhos perguntaram:
- Trouxeste peixe Pai?
O Pai ficou sem saber o que responder, porque só trazia aquela pequena petinga, que nem ao mais pequeno mataria a fome. Valeria a pena sacrificar o pobre peixe?
Quando viram a Petinguinha, brilhante que nem prata, as crianças ficaram paradas a olhar para o frasco. Quanto mais olhavam mais a Petinga brilhava. Para espanto do próprio pai, que há muitos anos pelo mar andava, nunca tinha visto tanto brilho num peixe tão pequeno, ele próprio começou a ficar curioso e os seus olhos também se fixaram na Petinga.
Maravilhados, resolveram coloca-la dentro de um grande alguidar, onde a mãe costumava lavar a roupa. Assim que caiu dentro do recipiente maior a Petinga saltou radiante de alegria e rodopiou dentro do alguidar, de um lado para o outro.
Vendo a alegria dos filhos, o pobre Pescador resolveu poupar a vida à Petinguinha e no dia seguinte levou-a consigo, para larga-la novamente no mar.
Remou até junto da pequena arriba onde a tinha apanhado e lançou a Petinga à água. Olhou para baixo e ali estava o pequeno peixe, parado a olhar para ele. Nadava um bocadinho, parava e voltava ao mesmo sítio. Então o Pescador resolveu segui-la. Remou mais um pouco e depois deixou de vê-la. A Petinga tinha-o conduzido mais à frente, a um sítio mesmo debaixo da rocha.
O mar agitou-se e o Pescador olhou para a água. O seu rosto iluminou-se, debaixo do barco andavam cardumes e cardumes de peixes. O Pescador lançou imediatamente as suas redes ao mar e recolheu-as cheias. A partir dessa data os dias de pesca nunca mais foram tristes, pois a pequena Petinga passou a guiar sempre o pescador para os melhores pesqueiros, fazendo com que este regressasse a casa sempre com peixe para os seus filhos, que o esperavam ansiosos para ver a pescaria.
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