sexta-feira, 3 de julho de 2009

QUIMICA




Era fim de tarde, o ar estava quente e abafado. Estava à três meses na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em trabalho.

Dirigia-me para casa quando resolvi parar num Bar junto à estrada o “SAFARI HEAT”.

Um daqueles bares na praia, feito de canas e folhas de palmeiras, com a madeira corroída e gasta pela maresia. Era um espaço amplo e aberto, com uma vista privilegiada para o extenso areal e o infinito mar azul, ladeado por uma vasta vegetação exótica.

Entrei, tirei o chapéu e cumprimentei surpreendido uns conhecidos que se encontravam sentados numa mesa logo na entrada. Convidaram-me a sentar, estavam muito animados. Por momentos hesitei, mas o meu olhar alcançou a outra ponta do bar e recusei amavelmente!

Ali estava Ela… sozinha….

Sensualmente sentada numa cadeira, com as pernas estendidas e os pés traçados sobre um tronco de madeira, envolta em flores encarnadas e grandes folhas verdes, a ler um livro.

Já nos tínhamos cruzado várias vezes pela ilha e trocámos olhares furtivos e cúmplices. A primeira vez que nos vimos, parámos por instantes e olhámos fixamente um para o outro, como se já nos conhecêssemos, o meu coração acelerou e senti as pernas a tremer.

Fiquei hipnotizado por Ela, a forma sedutora com se movia, não resisti e observei-a discretamente.

Era uma mulher esbelta, de longos cabelos castanhos, com um olhar penetrante e esquivo, com um encanto enigmático que me seduzia.

Sentei-me ao balcão e pedi uma bebida, Ela absorvia os meus pensamentos.

Tentei captar o seu olhar, mas quando levantou o rosto do livro e me viu, olhou-me com indiferença de relance.

Admirei o vasto mar azul, o som das ondas a bater e a atraente mulher, embriagavam os meus sentidos.

Quando voltei a olhar para a enigmática sedutora esta estava acompanhada. Ao seu lado estava um homem alto e magro, de costas.

Senti-me traído e até decepcionado, com tanta ilusão que tinha construído no meu subconsciente. Mas ainda fiquei mais desorientado quando o mesmo homem me chamou.
- Ricardo!
Olhei e reconheci aquele rosto, era Patrício, um dos meus colegas do trabalho.

Peguei na minha bebida e dirigi-me à mesa onde estavam.
O Patricio cumprimentou-me satisfeito por me encontrar por ali, e apresentou-a.

- Esta é Helena, a minha mulher.

Fiquei confuso, mas ao mesmo tempo ainda mais aliciado e rendido ao fruto proibido.

Helena tinha uns olhos castanhos enormes e profundamente enigmáticos, um olhar doce e paralisador.

Cheguei a temer que Patricio percebesse o que me ia na cabeça.

Vi no rosto dela que a minha presença também a incomodava, e quando me fixou e estendeu a mão magra e delicada, tive a certeza que eu também não lhe era indiferente, foi como se tivesse a haver uma passagem de energia entre ambos.

Nos minutos seguintes em que conversamos, deliciei-me com o aroma a âmbar que emanava do corpo dela, o decote generoso e o sorriso que esboçou quando contei uma piada.

Fiquei aliviado quando Patricio me disse que no dia seguinte ela ia embarcar para Lisboa. Não sei se conseguiria manter-me afastado dela. Talvez a distancia fosse mesmo o melhor, e de facto foi.

Três anos mais tarde voltei a encontrar Patricio e Helena, numa exposição de um artista Cabo-verdiano em Lisboa.

Cruzei-me com ela no corredor da casa de banho, ela ia a sair.

Quando levantou o rosto e me encarou, os seus olhos iluminaram-se.

Olhou ao redor discretamente, e com o peito encostou-me à parede e beijou-me, enquanto a sua mão, aquela mão macia que eu nunca tinha esquecido se esgueirou para dentro das minhas calças. Beijou-me ofegante e disse:

- Nunca te esqueci!

Soltou aquele riso com que eu tantas vezes sonhara e olhando-me nos olhos afastou-se.

Fiquei desconcertado… e pensei: Eu também nunca te esqueci.

3 comentários:

JOAOLUISA disse...

muito sensual e diriamos mesmo ...a roçar o erótico....mas por incrível que possa parecer igual a algumas que vão acontecendo no cruzar de vidas no banal dia a dia...o engraçado é que é sobretudo uma história como tantas outras mas com uma descrição que a torna única!!!

JOAOLUISA disse...

Sem dúvida uma história com muita carga sensual e quase erotismo mas ao mesmo tempo igual a muitas outras que vamos conhecendo ou que ouvimos comentar....as vidas cruzadas que nos vão relatando episódios semelhantes e que nos interrogamos...será verdade?...mas o realismo que transmite com tanta carga emotiva faz-nos acreditar que aconteceu...foi verdade!!!será??

Anónimo disse...

Quem me dera cruzar com uma mulher dessas