terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Árvore de Natal Catequese de Alfarim



Porque grandes pessoas, fazem coisas grandes e de grande valor para todos

Porque as pessoas da nossa terra são grandes, são empenhadas e realizam objectivos, não em seu nome individual, mas em nome colectivo, para os da terra, para os do concelho, para todos…
Não há barreiras, e se elas existem são transponíveis.
Penso que todos estamos gratos a toda a equipa que tem contribuído para o desenvolvimento do Clube Desportivo de Alfarim, principalmente o seu Presidente Sr. José Fernandes.
Ao longo dos anos o espaço tem melhorado consideravelmente, desde o relvado sintético, os equipamentos, o transporte e agora os novos balneários e a bancada.
Outros anónimos dão a cara por esta equipa, a Céu, o Júlio, o Ricardo, o António Apolinário, o Julinho e tantos outros, que tomam conta dos nossos meninos, tentando sempre gerir as circunstâncias da melhor maneira.
Com muito pouco… faz-se muito!
Para eles um GRANDE OBRIGADO!




Valorizar

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Pai da Dona Arlete


Um Senhor que não conseguimos identificar e o Pai da Dona Arlete.

Zé do Chlaró

O caracteristico barrete preto e a camisa sem gola, traje tipico dos Alfarinheiros, homens de terra e de mar.

domingo, 26 de outubro de 2014

As moças de Alfarim numa excursão em 1966

Cima: 1.ª Celestina, 2.ª Lina do Breca, 3.ª Maria José (Irmã da Joaquina que trabalha no Supermercado da D. Arlete), 4.ª Margarida do Malaquias.
Baixo: 1.ª Maria da Micaela (mãe Pedro e do Rui) 2.ª Tia Almorinda, 3.º Orlando (Greta) ?, 4.ª D.ª Arlete e João, 5.ªSerá a Maria Gertrudes, 6.ª Irene, 7.ª?, a Sr.ª de lenço é a avó do João Zé, ao fundo a Ilda e o Licinio (mãe da Julia) e mais à parece a Gracinda, ao fundo parece o Sapito e o pai.
Agradeço também a dedicação do meu Reporter de Imagem João Lucas, por partilhar connosco estas maravilhas.
Se clicarem na Foto dá para aumentar o tamanho.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Saltar à fogueira em Alfarim


Antigamente em Alfarim havia a tradição de acender a fogueira na noite de véspera dos Santos Populares, onde os jovens saltavam a fogueira.
Dizia-se que quem saltasse a fogueira mais vezes, em número ímpar, era abençoado e protegido de todos os males.
Segundo a tradição católica, a fogueira, tem origem num pacto feito pelas primas Isabel, mãe de São João Batista e Maria, mãe de Jesus Cristo.
Isabel teria mandado acender uma fogueira no cimo de um monte para avisar a sua prima Maria que o seu filho tinha nascido.

Foto de João Lucas

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Muita Classe

D.ª Isidora, Tia Maria Lopira, Tio Manuel do Leques, Tio Amilcar, D. Arlete, Tio Mário (pai da Suzete), António José e João Clemente.

Quando nas décadas de 50, 60 e 70 as grandes cidades europeias, como Paris e Milão, ditavam para todo o mundo as tendências da moda, já havia em Alfarim uma certa menina que nos deslumbrava com o seu bom gosto e sofisticação, a D. Arlete.
Os Senhores também elegantíssimos, com o famoso chapéu, eternizado pelo famoso Frank Sinatra... MUITA CLASSE estas gentes!

Foto de João Lucas (mais uma vez obrigada João)

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alfarim 1960, visita do Ministro da Educação

Foto de João Lucas, obrigada João, pela partilha de mais uma inesquecivel foto da nossa terra.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Parabéns Malala - Nobel da Paz


Postais de Alfarim

 Quando o nosso Jardim era um espaço agradável e bonito.

Postais de José Lucas.

Aldeia do Meco

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

O Homem do Burro, "O Sevelas" - Silvério Dias Pinhal Patricio

Há 28 anos atrás, 1986, o Meco andava na boca do mundo e isso devido ao "SEVELAS", como era conhecido.
- Esta foto correu o mundo! Diz Laura uma das filhas.
No seu burrinho, o Sr. Sevelas percorria a praia a vender uvas, maças, peras, figos e amoras.
Para a maior parte das pessoas que vinha para a praia, muitos estrangeiros, este homem tornou-se numa sensação, a simplicidade e a dignidade com que fazia o seu trabalho, fizeram com que se tornasse numa atração.
Agradeço à filha Laura Patricio a partilha da foto connosco.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Artigo sobre Alfarim (as páginas estão digitalizadas no post anterior)

JORNAL PORTUGAL HOJE
 O MISTÉRIO DE ALFARIM
- Um tal José Brandão andava a monte, pelo Algarve, por ter assassinado uma criança. Inesperadamente surgiu armado na propriedade do meu Avô e ameaçou-o de morte, caso não despistasse a brigada que o perseguia. “Diga-lhes que já passei por aqui há 3 dias” – recomendou. O velhote, atemorizado, não denunciou o bandido e cumpriu as suas instruções. Mas os perseguidores levaram a melhor, José Brandão foi preso e, já na cadeia, julgando-se traído, fez constar que o meu avô só teria de vida os anos que ele tivesse na prisão. Perante nova ameaça – e naquele tempo elas cumpriam-se - , o meu avô pegou na família, abandonou a sua terra e veio fixar-se aqui, em Alfarim. Isto contou-me meu pai.
Quem revela esta história é Acácio Pinhal Duarte, de 62 anos, qua acumula a faina do campo com as preocupações de “cabo de ordens” voluntário, única autoridade numa terra estranha, Alfarim, de que nos haviam chegado confusas e intrigantes noticias.
- Eles dizem que são independentes – haviam-nos afirmado em Sesimbra. -Têm hábitos diferentes, não respeitam os feriados, celebram o Natal a 26 de Dezembro, e dizem-se descendentes dos tripulantes de um navio que naufragou.
Acácio Duarte reage:
- Não senhor, nada disso. Claro que somos portuguese. Eu, como lhe contei, descendo de algarvios. Quanto ao Natal, na verdade, celebra-se a 26, mas isso é um costume antigo, sei lá. Não há junta de freguesia nem regedor. Eu sou “cabo de ordens” mas não me pagam nada por isso. Se há uma vez por outra alguma zaragata, claro que tenho de aparecer, o que só dá maçadas. O que era preciso, digo-lhe eu, caro senhor, era pôr luz e água nesta terra. Já desde rapaz oiço prometer isso. Era como a ponte sobre o Tejo, mas essa fez-se.
À DESCOBERTA DE ALFARIM
Alfarim, desviada da principal estrada que leva Lisboa a Sesimbra, não deslumbra ninguém. Pelo contrário, a primeira impressão que se colhe é de desolação: muitas ruínas, uma pobre igreja em obras, caminhos poeirentos, uma praça despida no centro da qual existe uma bomba manual que homens e mulheres, indistintamente, accionam, em busca da água que é lenitivo naquele dia escaldante. Entre dunas que a separam do mar o oceano pressente-se ali a uns 3 quilómetros, Alfarim parece asfixiar. Não muito longe, separada igualmente por pinheiros brancos, fantasmagóricos, curvados ao peso da areia dos carros impiedosamente levantam nuvens pela estrada, a Lagoa de Albufeira aonde acorrem milhares de turistas. Que passam por Alfarim sem a ver. Gente parada, nas soleiras das portas, esperando com fatalista resignação que o progresso chegue à terra. Mas tudo chega tarde a Alfarim. Até o Natal.
- No entanto gostamos desta terra. E acredite que há muitos holandeses, franceses e alemães que passam por cá e ficam a gostar também. Alugam umas casitas e durante o dia vão para a praia. Pena é não termos luz nem água. Eles ficam surpreendidos, por estarmos tão perto de Lisboa e neste atraso.
Maria do Carmo, uma costureira bonita que nasceu em Alfarim, não deixa de sorrir:
- Isto à semana é muito sossegado. Fiz aqui a quarta classe. Depois, não estudei mais. Para onde iria estudar? Nem Junta de Freguesia temos. Conformamo-nos com a de Santana. A terra precisava de progredir. A água principalmente, faz-nos muita falta. Mais de que a luz claro, mas também a ausência desta torna a terra mais triste à noite. E não podemos ver televisão.
Tentamos esclarecer os “mistérios” de Alfarim. Maria do Carmo sorri de novo, mas não sabe de nada. São coisas antigas que dizem. Mas eu não percebo nada disso. Sei que os meus pais já aqui nasceram também.
E (para mudar de conversa?) falamos da igreja da terra:
-Era tão jeitosa, tinha um altar tão lindo. Agora, é uma desolação. Fizeram-lhe umas obras mas ficou mais pobre. E arranjaram-se aqui uns 70 contos, entre a gente da aldeia, para a reparar. AONDE CHEGA O BRAÇO DA LEI?
 Domingos Marques tem um “café” no centro da aldeia. O progresso interessa-lhe, por óbvias razões. E oferece-se para nos revelar as principais aspirações locais. De novo a água e a luz (ou a sua ausência) vem à baila, como um sonho em que muitos já descrêem.
- No entanto, há por aí fora, até no Norte, muita aldeia menos importante do que Alfarim, que já merecia esses melhoramentos. Nós aqui, a dois passos de Lisboa, ainda nos iluminamos como há um século. Mas há outros problemas que ninguém resolve. As estradas por exemplo.
E o nosso entrevistado concretiza:
- Sabe que temos aqui, além da população que trabalha no campo, umas duas dezenas de pescadores que ainda pescam por um processo já quase abandonado: fazem-se ao mar em barcas de pesca, a remos. E mesmo assim conseguem resultados. Ainda no domingo passado trouxeram 15 caixas de peixes, que é o que nos vale. Mas a praia, embora perto, fica longe… Em linha recta, não são mais de dois quilómetros. Mas falta uma estrada para lá chegar. E assim os pescadores – eu próprio já o experimentei – quando regressam, extenuados da faina, ainda tem de caminhar ao longo das dunas, suportando os aparelhos e as caixas, até chegarem a uma estrada que fica distante daqui quase uma dezena de quilómetros. E, afinal, bastavam 2 a 3 quilómetros de estrada para ficarem ligados ao mar. e com uma praia bem bonita, como vai ver. Lá fomos ver.
E, de facto, a praia do Moinho de Baixo, bem merecia os elogios. Estava deserta, porém. Apenas um casal de franceses, de tenda armada, únicos descobridores, naquela tarde de Verão, de um paraíso por nós desperdiçado.
Domingos Marques, prosseguiu:
-Além desta estrada, outra ligação se impunha: a Aldeia dos Mecos, vizinha da nossa, com o Cabo Espichel, outros 4 a 5 quilómetros que viriam completar um circuito utilíssimo, nesta altura em que tanto se fala de turismo mas em que tão pouco se faz. O outro grave problema é o das construções clandestinas, a emperrar todo o progresso da região. A Câmara de Sesimbra, que se tem alheado muito dos nossos problemas (talvez por volta e meia mudarem os seus dirigentes) explica que por causa do Plano Director não se pode construir. Mas por mistério (será falta de fiscalização?) há construções que crescem durante a noite. De dia, parecem abandonadas, mas todas as24 horas progridem um pouco. No entanto, quem quiser construir edifícios definitivos, legalmente, em condições de eficiência, vê gorarem-se todos os seus projectos. Há “clandestinos” por toda a parte. Fomos até à Lagoa de Albufeira para ver. E percorremos uma região que parece suficientemente distante para que ali não chegue o braço da iniciativa particular mais responsável e evoluída. Nem o braço da fiscalização. Nem sequer um braço salvador – como já há dias aqui apontámos na secção “Como é Quando” – que ajude os banhistas em perigo.
Alfarim, pela vizinhança que tem Albufeira, e porque nela passam férias muitas famílias nacionais e estrangeiras, que frequentam a lagoa, sente o problema como se dela fosse também. E é.
QUEM SABE DE ALFARIM?
Regressámos a Alfarim. Em vão tentámos arrancar às pessoas confirmação de quanto ouvíramos acerca das “nebulosas” origens da aldeia e das lendas que a rodeiam. Escutámos os mais velhos, como José dos Santos (84 anos de trabalho no campo), que ainda se lembra da Alfarim do principio do século, mas que se apressou a negar que houvesse por ali coisas diferentes das outras terras.
Pouco mais, também, adiantaria o Padre Agostinho Gomes, que fomos encontrar na linda Igreja da Corredoura, já perto de Sesimbra:
- Sim, de facto sou eu que celebro Missa em Alfarim. As obras da Igreja estão interrompidas porque se devem cerca de 350 contos. Houve na verdade alterações na igreja: retirou-se um trono, de madeira pintada, sem qualquer valor. Quanto à celebração do Natal, ocorre de facto a 26. É Sua tradição antiga e explica-se por ser esse o dia em que a população festeja a sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição. Há muitas centenas de anos que assim acontece.
SEGREDO NO CASTELO
Rafael Monteiro, escritor arqueólogo, estudioso atento e apaixonado de tudo quanto se relacione com a sua terra (cujos direitos defende tenazmente) é também o último habitante do Castelo que se ergue à típica Sesimbra.
Lá fomos encontrar, no seu refúgio, rodeado de coisas tão raras e preciosas como essa bela imagem, em madeira dourada da Índia Portuguesa, como esse fascinante “Kriss” malaio (um punhal talhado num meteorito e utilizado em misteriosos rituais), e milhares de apontamentos, igualmente sem preço, porque frutos de um trabalho persistente, consciencioso, completamente desinteressado.
Haviam-nos garantido que Rafael Monteiro não deixaria de ter explicação fundamentada para o “segredo” de Alfarim. E acertaram, porque, com cativante simplicidade, o homem que tem consumido toda a vida a investigar os ténues fios que nos ligam a um passado de milénios, dispôs-se a contar-nos o que sabia:
- Creio que Alfarim é uma povoação milenária, de origem árabe. Deve ter-se ali fixado um grupo de povos árabes muito antes da fundação de Portugal. Penso até que o nome de Alfarim deriva de uma actividade de Oleiros, porque há ali perto uma região que se chama Fornos e que no Século XVIII ainda mantinha o nome de Fornos da Telha, portanto local onde fabricavam telha. Esta designação antiga perdeu-se, ficou apenas a de Fornos, povoação que fica próxima de outra, Torrões. Alfarim é, portanto, um nome árabe, que o radical “al” denuncia. Deve ter sido uma povoação de oleiros, e tudo leva a crer tratar-se de um grupo de gente muçulmana, já dentro da própria etnia, diferenciado de outros. Será essa a razão longínqua de Alfarim se ter mantido sempre como núcleo absolutamente fechado, aqui no concelho, até com uma linguagem diferente da comum do povo do campo. Tem termos muito pessoais, hoje bastante destruídos na sua singularidade pelo contacto com Lisboa (eles fornecem Almada e a própria capital de produtos hortícolas).
E Rafael Monteiro recorda a seguir:
 -Aqui há uns anos, talvez à 25, um grande arqueólogo inglês, Savory, fez por ai umas buscas e encontrou uns machados de bronze, de alvado e de talão (aos primeiros distingue-se um orifício para aplicação do cabo, que os segundos dispensam). Ao Sul do Tejo encontraram-se onze utensílios. Segundo Savory, essa descoberta fazia crer num contacto comercial entre os povos que habitavam a região e os ingleses, os irlandeses, ligados à velha “estrada do estanho”. Isto ocorrera, segundo o arqueólogo inglês, há três mil anos, aproximadamente. Portanto Alfarim já teria, nessa altura, gente que comerciava com o Norte de Inglaterra.
E voltamos de novo às particularidades de Alfarim:
- Sempre houve, de qualquer modo, uma singularidade especifica. Gente muito orgulhosa das suas tradições, afirma Rafael Monteiro. E conta-nos um episódio curioso e significante: -Quando foi da implantação da República, os alfarinheiros, que como quase da região eram monárquicos muito firmes, não aceitaram o novo regime. E mantiveram içada a bandeira da monarquia.. Quiseram, nessa altura, tornar-se independentes do resto do país. Daí nasceram muito que ainda hoje persistem em torno de Alfarim. Claro que o núcleo não teve forças para poder triunfar o seu ponto de vista. Diz-se que para marcarem a sua singularidade e o seu protesto perante a política de então, passaram a celebrar o Natal a 26. Realmente, há muitos anos assim acontece.
Rafael Monteiro, com a prudência que caracteriza os historiadores honestos, acrescenta:
- Não tenho idade par ater testemunhado a autenticidade desta versão. Não posso assegurar se esta alteração do Natal (de 25 para 26 de Dezembro) é ou não anterior a 1910. Trata-se de uma região agrícola e o dia 26 corresponde a um culto antigo mais antigo que depois se associou com o Cristianismo ao Natal.
Assinalámos que o antigo calendário cristão indicava o Natal a 26 de Dezembro. E o nosso entrevistado abordou outra particularidade da gente de Alfarim:
- Os homens de Alfarim usavam – e ainda hoje alguns dos mais velhos usam – um trajar um bocadinho dos outros homens do campo. Sempre de Barrete. Sempre de Cinta. E sempre com um saco, objecto que lhes é imprescindível , porque apanham sempre tudo quanto encontram. A incidência de correntes naquela costa fazia arrojar à praia vários despojos, desde madeira a corpos de náufragos. Morto que ali caísse era despojado de tudo. Não lhe ficava nem um botão.
E Rafael Monteiro recorda um episódio, ocorrido durante a última Grande Guerra: caíra um avião correio, que cumpria a rota Gibraltar-Londres-Gibraltar. Os destroços do aparelho deram à praia. Pois logo se formou uma dupla bicha, uns para baixo, outros para cima, enquanto a estrutura do aparelho ia sendo sistematicamente despida.
AINDA OS PESCADORES
Os pescadores de Sesimbra tem em Rafael Monteiro – como em nós, também – um “observador” atento e um admirador apaixonado. Falou-se dos Pescadores de Alfarim:
-Alguns deles pescam por um processo que eu considero único. Independentemente de possuírem umas artes de arrasto, as chamadas Xávegas, ali na Aldeia do Meco, que arrastam do mar para a terra, usam uma maneira singularíssima que é, aliás, criminosa e foi utilizada no país aí por 1915, no período da grande abundância de sardinha: lançam ao mar umas espoletas de dinamite. A descarga entontece o peixe, que vem à tona da água, vivo sim, mas sem reflexos. Eles metem-se então na água, com um saco seguro na boca (o celebérrimo saco com que andam sempre) e equilibrando-se, nadando com uma das mãos, vão com a outra arrecadando o peixe.
E o nosso interlocutor explica depois velhos motivos de animosidade:
- Em Sesimbra há uma divisão muito profunda entre o homem do mar e o homem do campo. Quase se pode dizer que a maior ofensa que se podia fazer a uma pessoa de Sesimbra, da Vila, seria chamar-lhe do campo. Nunca houve entre uns e outros, um entendimento perfeito. Com excepção das pessoas de Sesimbra e da região da Azóia, que devem constituir outro núcleo muito diferenciado. Nascer à borda de água, nascer no mar, é qualquer coisa de honroso. E distinguem isso. Para mim, que tenho tentado estudar o assunto , há nisto qualquer coisa de carácter religioso, diferenciado os povos islamitas, que povoaram esta região e os povos camitas, que eu tenho a certeza estarem na origem dos pescadores de Sesimbra. Embora ambos semitas, cada um pertencia ao seu clã, o que deu origem a esta destrinça, a esta oposição entre eles, entre os homens do mar e os do campo. Porém entre estes últimos, é o alfarinheiro, o mais criticado, talvez pelas particularidades que referi. UMA DESCOBERTA
Alfarim, nome de novo na conversa. E Rafael Monteiro revela:
- Ainda quanto à origem do nome da Aldeia, que eu suponho ser uma deturpação da palavra “alfarero”, ou semelhante, referente a trabalhos de oleiro, revelarei uma descoberta que se fez há tempo, muito próximo da povoação chamada Amieira: o Dr. Conceição Silva, oficial da marinha, encontrou ali o que se supõe poderia ter sido um forno de cozedura de barros ou, então, o que seria muito mais importante, uma estação de salga de peixe e de produção do célebre “garum”, que os romanos e feníncios extraiam do peixe e exportavam para toda a parte do mundo conhecido de então, como muito apreciada iguaria. -Essas salgadeiras ou cetárias – continua Rafael Monteiro – que se conheciam só no Algarve (Estácio da Veiga apontou-as) presumia-se que não viessem mais para Norte. Hoje já se encontraram várias (creio mesmo que aqui no Castelo existem restos de algumas), e o que se encontrou em Alfarim, bem podem ser vestígios de uma cetária. De qualquer modo, tem todo o aspecto de uma construção romana, o que vem em reforço da afirmação de que Alfarim é uma povoação antiquíssima, talvez das mais antigas do concelho.
Rafael Monteiro – e os amigos que o acompanham nas pesquisas – ainda não puderam voltar a debruçar-se sobre os importantes achados. As pessoas que trabalham em arqueologia, em Portugal, não contam com outros estímulos para além do entusiasmo que os leva por vezes a sacrifícios pessoais e a renúncias.
E Rafael Monteiro, um estudioso sempre debruçado sobre o passado, anda agora muito preocupado e indignado com o presente e o futuro. Aliás, como muito boa gente de Sesimbra com quem contactamos, não se conforma com a última decisão sobre os limites do concelho. Consideram-se, todos eles, vitimas de uma injustiça. E desgosta-os não se ter erguido uma voz responsável a quebrara apatia que foi sinónima de cedência. Riscos dos tempos.
ALFARIM SEM MITOS
Quando de novo passámos em Alfarim já sabíamos sobre a aldeia, mais do que muitos dos seus habitantes. -Aqui há muitos burros. É o que nos vale. Eu tenho 70 anos. Este amigo – e o velhote que nos falava apontava o decrépito asno que montava, já mais cansado do que ele – é quem me aguenta. Quando se for abaixo das pernas, não sei o que será de mim. Última imagem de Alfarim? A igreja pobre e sem flores? A água arrancada a pulso? As caixas de carapaus que os pescadores transportam sobre as dunas? Os pinheiros brancos, como de neve, na terra que espera pelo Natal, pela luz e pela água? Tudo isto. E também o sorriso simpático da Maria do Carmo: -Esta terra é boa. Até os holandeses, os franceses e os alemães gostam dela. E nós.
BOAS NOVAS
 Ainda este ano, Alfarim receberá luz eléctrica. Quanto ao abastecimento de água, dentro de 90 dias estará concluído o projecto que abrange todo o concelho. E embora não possa já adiantar datas, sabe-se que a amplificação da rede de água beneficiará, por ordem, Zambujal, caixas, Alfarim, Azóia e Cabo Espichel – declarou ao “Observador” o presidente do Município de Sesimbra. Uma boa noticia que nos apressamos a revelar, formulando votos de que se concretizem os dois melhoramentos o mais cedo possível.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Fatos históricos de Alfarim

Esta noticia publicada há alguns aninhos, descreve-nos uma Alfarim de outros tempos, mas que nós identificamos logo assim que começamos a ler. A jovem na primeira página é a Maria do Carmo, filha da Tia Fernanda e irmã do Nanito (trabalha com ferro), acho que assim conseguem ir lá.
Alguém que consiga identificar ou desvendar mais alguma coisa, faça- o nos comentários.
O original, facultado por uma amiga, já é uma fotocópia em muito mau estado, vou tentar passar a limpo e depois publicar novamente, quando tiver tempo…





segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Catequese em Alfarim - Inscrições

A Catequese voltou a Alfarim!!!!!!
Podem também inscrever-se ao Domingo na Igreja de de Alfarim, antes ou despois da Missa, que se realiza ás 09h30m.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Queremos dinamizar a nossa terra “Alfarim”

Gostava que na minha terra houvesse mais iniciativas, se promovessem eventos culturais para os mais jovens, música, arte, literatura, que se lembrassem dos mais idosos e dos outros também.
Pode-se fazer tanta coisa e muitas vezes com tão pouco.
A nossa terra revela-se ao mundo, como uma terra bonita, hospitaleira e com um povo lutador, que não dá descanso à criatividade e invenções gastronómicas.
Era giro, por exemplo, um Quiosque de rua, com panfletos e roteiros turísticos da zona e outras sugestões, que podia muito bem ser no Jardim, que agora já não é um jardim.
Uma mini Biblioteca, com um computador, onde os jovens se reunissem para estudar ou trocar ideias. Um espaço onde se pudessem expor os trabalhos dos criativos da terra, pinturas, desenhos, histórias, cerâmica, rendas, bricolage, tantas coisas.
Sonhando mais alto, porque não um Museu, com fotos antigas, que há muitas espalhadas, que narram a história e a evolução da terra até aos nossos dias, podiam também expor artefactos e outros instrumentos que antigamente eram usadas na agricultura e roupa. Neste museu podia haver uma sala de Teatro e Cinema e haver actuações, mesmo ao ar livre.
Coisas que nos façam sair de casa e trazer outras pessoas de fora, para estimular e impulsionar a nossa terra e tudo o que ela nos oferece.
Gostava que a Autarquia, a Junta de Freguesia, se lembrassem mais de Alfarim!

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Fábulas e Contos de Alfarim: CONCHAS NA AREIA

O meu pai é pescador desde os onze anos de idade, a sua vida é o mar, o meu avô é pescador e o meu bisavô também era.
É uma vida muito dura e difícil!
Durante alguns anos o meu avô andou à pesca em mares longínquos e ficava alguns meses sem vir a terra. O meu pai e o meu tio ficavam tristes, tinham saudades dele e rezavam para que voltasse depressa.
Os tempos eram difíceis e as pessoas passavam por algumas dificuldades.
A minha avó era costureira e passava os dias em frente à máquina de costura. O meu pai e o meu tio jogavam ao berlinde e batiam ás portas das vizinhas e depois fugiam a correr como loucos.
Quando chegava o fim-de-semana, depois de fazerem os trabalhos de casa, a minha avó fazia-lhes uma surpresa. O meu pai diz que eram os momentos mais felizes que passavam. Desciam a rua de mãos dadas, a cantar e a dançar, ansiosos por chegar ao fim da Rua, que desembocava no mar. Quando chegavam, ficavam ali parados e pasmados a olhar a imensidão azul e reluzente. Depois desatavam a correr em direcção à água, tiravam os sapatos e molhavam os pezinhos na água fresca.
A minha avó mandava-lhes água com as mãos e ria à gargalhada, enquanto o meu pai e o meu tio fugiam. Eram momentos inesquecíveis para aqueles dois!
A minha avó levava um saquinho de pano e depois apanhavam conchinhas. Percorriam o areal duma ponta à outra, ás vezes vinha uma onda e roubava-lhes uma concha. Havia búzios e conchas maravilhosas e raras. A minha avó dizia-lhes que algumas tinham dado a volta ao mundo. Quando o sol se começava a esconder no horizonte, regressavam a casa. Assim que chegavam, despejavam o saquinho em cima da mesa e ficavam embasbacados a olhar para aquele tesouro maravilhoso. Depois punham as conchas em frascos de vidro. As mais bonitas, a avó fazia pulseiras e colares, que o meu pai e o meu tio ofereciam ás raparigas na escola. Eram outros tempos e outras vidas.
Hoje em dia, todos os Domingos à tarde, o meu pai leva-me a mim e ao meu irmão à praia, a mesma praia e o mesmo mar. Corremos todos contentes pela praia à procura de conchas e búzios, tal como ele, o meu tio e a minha avó faziam há trinta anos.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Fábulas e Contos de Alfarim: GAIVOTAS PERDIDAS


Nesta baia encantada vi um dia partir do Porto aquele por quem o meu coração anseia,
Nasci aqui nesta terra, nas minhas veias corre sangue de água salgada,

Sobre a areia fina os meus pés correram a toda a velocidade,
os intensos raios de sol abençoaram a minha áurea,
e a frescura vinda do mar, arrefeceu o meu coração,

A melodia do canto das gaivotas conduz-me ao porto,
onde tu estás, instintivamente, à minha espera,
Dançamos ao som das ondas, cantamos sobre as rochas e ouvimos o murmurar das sereias...
nos céus as gaivotas...

Sem saber, despedimo-nos um do outro,
sem saber, que seria a última vez,
Éramos felizes…

Sobre as nossas cabeças, lá esvoaçavam elas, brancas, imaculadas e belas, as gaivotas...

E o barco partiu,
Para longe, mar adentro, para nunca mais voltar, perdido noutro lugar, noutro mar qualquer, um mar desconhecido, 
Foi abraçado, pelas ondas revoltosas, que o puxaram e arrastaram, para as profundezas, para o desconhecido.

Espero em vão, no porto, olho o mar, este mar vasto e belo, com tantas memórias,
A sede de amar consome-me, o meu corpo está frio e só, o único som que ouço é o silêncio,

O mar é o mesmo, imenso e belo, o canto das gaivotas, gaivotas perdidas, como eu, num mar tumultuoso, egoísta e perfeito.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Fábulas e Contos de Alfarim: O BURRINHO DE ALFARIM

Era uma vez um burrinho muito, muito velhinho, que tinha uma Dona igualmente tão velhinha quanto ele.
A Velhinha era viúva e vivia sozinha com o seu burrinho. Andava sempre vestida de preto, com um lenço na cabeça, atado de baixo do queixo e um avental muito velho e gasto.
Todos os dias saiam para ir para a horta. O Burrinho com a albarda e dois cestos, um de cada lado e a Velhota com as rédeas na mão puxava-o, e lá iam pela estrada abaixo muito devagarinho, pois as pernas já não permitiam andar mais depressa.
Quando chegavam à horta, o Burrinho ia pastar debaixo de uma oliveira e a Velhinha pegava no seu sacho e começava a arrancar as ervas que cresciam por entre cenouras, nabos e hortaliças.
Depois pegava na foice e apanhava algumas serralhas, que cresciam nos carreiros, para levar para os coelhos.
Antes de regressarem a casa, ainda ia ao poço, lançava o velho balde de ferro ferrugento à água e depois muito devagarinho puxava-o para cima e dava de beber ao seu burrinho, já com a barriga cheia de ervas. Depois lá iam eles, os dois muito devagarinho pela estrada fora, de regresso a casa.
Um dia a Velhinha que vivia sozinha com o seu burrito e não tinha família nenhuma, morreu.
Então o pobre do Burrinho ficou tão triste, tão triste que zurrou e zurrou de tristeza.
Um Velhote que por ali ia a passar com o seu neto, ficou espantado e foi ver o que se passava.
Quando espreitou para dentro do palheiro viu o Burrinho sozinho, deitado na palha, infeliz e amargurado. Quando os viu o Burrinho levantou-se, aproximou-se das tábuas e com a cabeça começou a roçar no Velhote e no Netinho.
-Coitadinho Avô, está sozinho.
-Está velhote como eu, já não serve para nada…
-Não digas isso avô, eu adoro-te.
O velhote começou a pensar, a pensar e olhava para o burrinho.
-Hoje vais connosco para nossa casa.
E assim foi, o Burrinho velhinho lá foi com o Avô e o Neto para a sua nova casa, onde passa os dias a pastar num pasto com erva verdinha e muito gostosa.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Fábulas e Contos de Alfarim: A PETINGUINHA DE SESIMBRA

O Pescador andava no seu barco pequenino, ao sabor das ondas, pelas águas de Sesimbra.
Há mais de cinco dias que não apanhava nada, lançava as redes, esperava, recolhia-as e nada.
Regressava a casa de cabeça baixa e triste. No entanto, ao chegar, o seu rosto iluminava-se com a recepção dos seus filhos.
- Diz-me Pai, apanhaste um Tubarão grande e feroz? Dizia o mais novo.
- Ou um Polvo gigante das profundezas? Com o qual tiveste de lutar, com os seus longos e fortes tentáculos? Dizia o mais velho.
O Pescador respirava fundo, engolia em seco e respondia:
- Hoje tive de lutar com gigantes serpentes marinhas, que afastaram os peixes da minha rede!
Depois, entravam na humilde casa. A mãe estava junto ao fogão e no ar pairava um cheirinho delicioso. Estava a preparar um caldinho. Lavavam as mãos e sentavam-se à mesa, um de cada lado do Pai.
No outro dia, lá ia novamente o Pescador, expectante e esperançoso para a faina. O mar estava muito agitado e no ar as gaivotas barulhentas voavam de um lado para o outro. Entrou no seu barquinho e lá foi. Depois de ter remado durante uma hora, parou junto de uma pequena arriba abrigada e lançou as redes. Esperou, esperou e passado um bom bocado começou a puxar lentamente a rede. À medida que puxava a rede o desânimo aumentava, não vinha nada, nada. Continuou a puxar e já mesmo no fim da rede vinha uma Petinguinha pequenina e brilhante.
O Pescador, triste, olhou para o pequeno peixe aos pulos dentro do barco a debater-se pela vida.
Pegou num frasco vazio que tinha dentro do barco, encheu-o com água salgada e pôs a Petinga lá dentro, que saltitava e rodopiava de um lado para o outro. Depois colocou as mãos sobre o rosto e começou a chorar.
A sua pele estava queimada do sol e da água salgada. As mãos calejadas tremiam.
Só se ouvia o som do mar, calmo e suave.
Pegou no frasco e olhou para a petinga, que não se mexia e olhava-o fixamente.
-Vou levar-te para casa!
Pousou o frasco no fundo do barco, arrumou as redes e começou a remar para terra.
Quando chegou a casa os filhos perguntaram:
- Trouxeste peixe Pai?
O Pai ficou sem saber o que responder, porque só trazia aquela pequena petinga, que nem ao mais pequeno mataria a fome. Valeria a pena sacrificar o pobre peixe?
Quando viram a Petinguinha, brilhante que nem prata, as crianças ficaram paradas a olhar para o frasco. Quanto mais olhavam mais a Petinga brilhava. Para espanto do próprio pai, que há muitos anos pelo mar andava, nunca tinha visto tanto brilho num peixe tão pequeno, ele próprio começou a ficar curioso e os seus olhos também se fixaram na Petinga.
Maravilhados, resolveram coloca-la dentro de um grande alguidar, onde a mãe costumava lavar a roupa. Assim que caiu dentro do recipiente maior a Petinga saltou radiante de alegria e rodopiou dentro do alguidar, de um lado para o outro.
Vendo a alegria dos filhos, o pobre Pescador resolveu poupar a vida à Petinguinha e no dia seguinte levou-a consigo, para larga-la novamente no mar.
Remou até junto da pequena arriba onde a tinha apanhado e lançou a Petinga à água. Olhou para baixo e ali estava o pequeno peixe, parado a olhar para ele. Nadava um bocadinho, parava e voltava ao mesmo sítio. Então o Pescador resolveu segui-la. Remou mais um pouco e depois deixou de vê-la. A Petinga tinha-o conduzido mais à frente, a um sítio mesmo debaixo da rocha.
O mar agitou-se e o Pescador olhou para a água. O seu rosto iluminou-se, debaixo do barco andavam cardumes e cardumes de peixes. O Pescador lançou imediatamente as suas redes ao mar e recolheu-as cheias. A partir dessa data os dias de pesca nunca mais foram tristes, pois a pequena Petinga passou a guiar sempre o pescador para os melhores pesqueiros, fazendo com que este regressasse a casa sempre com peixe para os seus filhos, que o esperavam ansiosos para ver a pescaria.

Fábulas e Contos de Alfarim: DOM GASPAR DE LA BROA

Andava valente e emproado, cavalgando com o seu belo e altivo cavalo russo, de nome Andarilho, o Senhor Dom Gaspar De La Broa.
Cavaleiro e cavalo, destemidos, aventuravam-se pelas terras a sul do Condado Portucalense em busca de Mouros Estava uma bela manhã de Verão e o fiel amigo Violino, um cão, seguia-os de perto com as orelhas em pé.
O carreiro era apertado e a vegetação muito densa.
- Não se escondam! Venham até nós, seus invasores! Nós vamos conquistar este território!
Dizia Dom Gaspar De La Broa, erguendo no ar uma enorme espada reluzente.
Para além do som das passadas do cavalo e do cantar dos pássaros, não se ouvia mais nada.
Já estavam a andar à mais de duas horas e nem sinal dos Mouros.
A postura altiva e aprumada, foi substituída por uma figura estafada do cavalo, e uma postura desalinhada e um ar aborrecido do cavaleiro, só o Violino se mantinha vigilante.
De repente, o cão, que agora ia à frente, sempre desperto, parou… fez-se um silêncio assustador e o cavalo ficou em sentido.
Dom Gaspar compôs-se, levantou os ombros e endireitou as costas, olhou para o fundo do carreiro com os olhos arregalados e procurou um sinal do inimigo… os Mouros.
O silêncio foi quebrado por um som melodioso e suave, um canto belo e harmonioso… Debaixo de uma árvore gigante com uns extensos ramos esguios, envoltos por folhas verdes de uma hera, estava sentada sobre uma pedra uma donzela. A jovem penteava os seus longos cabelos louros, reluzentes como sol, com um pente de ouro, era bela e cantava um lindo cântico.
- Uma Moura Encantada…
Ficaram os três hipnotizados com tanta beleza e magia… enquanto o cavalo, a passos muito vagarosos se aproximava da Moura.
- Meu jovem e bravo cavaleiro… que procuras aventuras destemidas… és nobre e corajoso, buscas a glória… vem… vem … aproxima-te… vem até junto de mim…
Dom Gaspar De La Broa desceu do cavalo e aproximou-se da Moura. Andarilho e Violino olhavam fascinados, parados lado a lado.
- Já te esperava há algum tempo… ansiosa que tu, com a tua vigorosa espada me libertasses deste encantamento… peço-te que me ajudes e em troca dar-te-ei um maravilhoso tesouro…
O Violino ladrou e deu ao rabo e o Andarilho relinchou, quando ouviram a palavra tesouro.
- O que queres que faça? Perguntou Dom Gaspar.
A Moura levantou um pouco o vestido. No seu pé direito, descalço, tinha envolta uma corrente que a prendia à pedra.
- Quebra esta corrente com a tua nobre espada e libertar-me-ás deste feitiço…
Dom Gaspar levantou a espada no ar e deixou-a cair sobre a grossa e ferrugenta corrente.
Fez-se um estrondo enorme e a corrente quebrou-se… uma luz mágica e intensa envolveu todo o local, parecia que caiam estrelas do céu, não se conseguia quase abrir os olhos, nem se via nada.
De repente tudo desapareceu e ficou um aroma a flores no ar. No sítio onde estava a Moura, em cima da pedra estava uma cesta, coberta com um pano de linho bordado a ouro.
Dom Gaspar De La Broa aproximou-se e levantou o pano, o seu rosto iluminou-se e os seus olhos reluziram de felicidade perante o que viam dentro da cesta …
- BROAS DE ALFARIM!
- Simão? Simão Gaspar? Simão Gaspar!? Gritou a Professora.
- Sim…, sim… Senhora Professora? - Responda à pergunta! Onde é que o menino está com a cabeça?   
- Qual é o nome da Batalha entre Mouros e tropas de D. Afonso Henriques, onde este se autoproclamou Rei de Portugal?
- Hum…hum… Broas de Alfarim! Responde o Simão meio assarapantado.
Toda a turma desata a rir perante o olhar incrédulo da Professora.
- Batalha de Ourique Professora, Batalha de Ourique!
Trim, trim… toca para a saída. Os meninos arrumam e começam a sair da sala de aulas.
- Desculpe Professora! Estava a viajar na tempo…
- Dom Simão, Dom Simão… A Professora pisca-lhe o olho.

Fábulas e Contos de Alfarim:VOLUNTARIADO DE BICICLETA

Quando éramos mais pequenos, eu e o meu irmão, só brincávamos dentro do quintal, a minha mãe não nos deixava sair para o exterior, era perigoso e nós éramos pequeninos, o grande portão verde no fundo do jardim era a grande barreira. Mas agora que já estamos mais crescidos e é Verão, os dias são grandes e quentes, a mãe abre uma excepção.
Chamo-me Filipa e tenho 11 anos, o meu irmão tem 10 anos e chama-se Simão, vivemos em Alfarim, uma Aldeia pequena e antiga, próxima da praia e rodeada de pinheiros.
As ruas são pouco movimentadas, excepto a estrada principal, ai temos de ter muito cuidado e atenção. Assim, todos os dias quando saímos da Escola, pegamos nas nossas bicicletas e percorremos as Ruas de Alfarim a toda a velocidade, sempre a competir a ver quem chega primeiro.
Nestes passeios de bicicleta saudamos e cumprimentamos os vizinhos e conhecidos, Alfarim é uma aldeia pequena e toda a gente se conhece. Pedalar, pedalar, pedalar e sentir o vento fresco na cara, no pensamento o mapa com o traçado do percurso…
Existem muitos velhotes, simpáticos e sorridentes, que noutros tempos andavam a trabalhar nas terras e enchiam as estradas de terra batida de carroças puxadas por burritos e mulas.
Hoje os tempos são outros e a idade também já não permite.
Paramos em várias casas, descemos das bicicletas e conversamos animadamente com os velhotes, que ficam radiantes quando nos vêem chegar. Às vezes até já estão à nossa espera.
Como é fim de tarde mas ainda está calor, sentamo-nos ao fresquinho nas soleiras das portas e bebemos água fresquinha que o tio João tira do Poço, com um velho balde de ferro. Estamos ofegantes de tanto pedalar.
Às vezes apanhamos laranjas e descascamos enquanto conversamos, são tão azedas, mas sabem mesmo bem. O Simão diz palhaçadas, eu faço perguntas e ouvimos atentamente as histórias de outros tempos, que estes homens e mulheres contam emocionados e saudosos, muitas vezes com os olhos cheios de lágrimas. As histórias são maravilhosas, às vezes gostava de também as ter vivido. Os velhotes ficam contentes por nós nos interessarmos e ouvirmos, ou simplesmente por aparecermos.
Com o passar do tempo criamos laços de amizade, familiares, trocamos pequenos miminhos, insignificantes para nós, mas tão marcantes e essenciais para eles. É gratificante e compensador ver a alegria nestes rostos. Mais à frente a Tia Violeta, já está ao portão com o gato amarelo à nossa espera.
- Olá meninos! Vão para casa que já está de noite! Amanhã venham mais cedo, vou fazer uma limonada.
- Vamos tentar vir mais cedo e ajudamos-te a regar os limoeiros!
- Combinado meninos, até amanhã!
O sol desapareceu, o céu está cinzento e os candeeiros de rua já estão a piscar, colocamos os pés nos pedais, mãos nos volantes e toca a acelerar as bicicletas. Pelo caminho acenamos com as mãos até perder de vista, amanhã é outro dia e há mais visitas para fazer.