segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Moscatel made in Meco

A uva é sem dúvida alguma uma das frutas com maior versatilidade de uso. 
Moscatel é o nome dado a uma variedade de uvas bastante adocicada.
Grande parte do Moscatel do país é produzido aqui perto, nos concelhos de Setúbal e Palmela.
Pensa-se que a sua produção remonte de há centenas de anos, no tempo de D. Dinis já o vinho de Setúbal tinha bastante fama e vários forais foram concedidos pelos  reis. 
O primeiro Foral data de 1186 e faz alusão à vinha da região.
O Rei D. Manuel, "O Venturoso", menciona igualmente as vinhas de Setúbal num foral de 1514. 
Numa ementa de um banquete dos Cavaleiros de Malta, realizado em 1797, é citado, entre outros vinhos numerosos e célebres, o precioso «Setúbal». 
O Moscatel de Setúbal tem a denominação de origem, pois é produzido na região demarcada de Setúbal e Palmela.
As condições óptimas do clima e do solo conjugam-se para dar origem a este Moscatel.
Este vinho tem um teor alcoólico de 18 graus, com um «bouquet» de sabor a fruta agradável quando é jovem.

No concelho de Sesimbra também existem bastantes vinhas, de pequenas dimensões. 
Há uns anos atrás, na zona mais campestre, quase todas as casas tinham um Lagar, onde pisavam as uvas, hoje em dia a maior parte foram eliminados.
No entanto, no Meco ainda persiste este antigo costume, apesar de ser feito hoje em dia com ajuda das máquinas.

O Moscatel do Meco é um vinho dourado, com perfume suave e um sabor delicado.







A Padeira Maria da Luz

Maria da Luz, uma das mulheres mais trabalhadoras e lutadoras da nossa terra e que teve a determinação suficiente para se tornar uma das mais bem sucedidas da sua geração.
È dificil resistir ao cheirinho do pão acabado de fazer, quando passamos de manhã na Rua das Abertas, nas Caixas.
O pão que faz é uma delicia! 
A massa é preparada como antigamente, com o preceito e o rigor dos nossos avós, dos mais antigos. 
Quando se fala no famoso Pão de Alfarim, pensamos logo na Maria da Luz, mesmo morando nas Caixas, foi esta marca que ela também ajudou a crescer.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A Mina de Diatomito de Alfarim

Na região de Sesimbra encontram-se algumas ocorrências de diatomito que foram objecto de exploração mineira, sendo que o depósito mais intensamente explorado se localiza nas proximidades de Amieira em Alfarim.
Associado ao jazigo mineral, encontra-se também uma unidade transformadora. Esta mina está abandonada desde 1984, mas apresenta um conjunto de características que lhe conferem um elevado interesse patrimonial geológico-mineiro e que justificam a tomada de medidas que promovam a sua preservação.
O diatomito, conhecido também por outras designações, é uma matéria-prima explorada com variadas finalidades, essencialmente industriais: agente de polimento, pastas dentífricas, filtrante, cimento, revestimentos, isolante térmico, entre outras. Uma das mais particulares aplicações de diatomito, já histórica, foi a da utilização no fabrico de dinamite devido à sua elevada capacidade absorvente.
As ocorrências de diatomito mais conhecidas em Portugal encontram-se a Norte do Tejo, sobretudo nas regiões de Rio Maior e Óbidos. A Sul do Tejo são também conhecidas algumas ocorrências no Barreiro e, em especial, na região de Sesimbra. Aqui, foram atribuídas concessões de exploração em vários locais nas vizinhanças da Lagoa de Albufeira: Coelheira, Abogaria, Ferrarias e Amieira- Alfarim.
No total do distrito de Setúbal, a produção destas explorações chegou a atingir um total de 750 toneladas, em 1957 e de somente 112 em 1962.
A última das concessões referidas, a Mina de Amieira, terá sido a que mais intensamente lavrou e produziu, até ao seu encerramento em 1984. Neste local, para além do jazigo mineral encontra-se nas proximidades a respectiva unidade de transformação da matéria-prima. É este conjunto, jazigo e unidade transformadora, que apresenta características patrimoniais.
O jazigo de diatomito da Amieira em Alfarim, foi o mais intensamente  explorado entre todos os da região de Sesimbra, é de pequena dimensão sendo que, no máximo, o depósito explorado não excede os 3 m de espessura; o diatomito é de cor esbranquiçado e apresenta leitos arenosos intercalados.

Aspecto geral de uma frente de exploração do jazigo de diatomito de Amieira

Pormenor dos níveis de diatomito

A extracção era efectuada de modo artesanal, com recurso somente a enxada e picareta, e o material extraído transportado, em carrinho-de-mão, até à unidade transformadora, conhecida localmente por “fábrica de giz”, que se situava a cerca de 100 m de distância. Aqui o material era descarregado no anexo do edifício que funcionava como armazém.

Aspecto geral da unidade transformadora (“fábrica de giz”) da mina de Amieira

O armazém de diatomito no interior do edifício

Uma vez chegado ao armazém, o material era encaminhado para transformação que consistia, fundamentalmente, em moagem, primeiro mais grosseira, depois mais fina, seguido de separação granulométrica por gravidade e embalagem de pó de diatomito em sacas de papel
Assim, os blocos de diatomito armazenados eram colocados numa calha onde um veio sem-fim, os desagregava e transportava até um de dois moinhos eléctricos (seleccionados consoante a granulometria pretendida). A partir destes moinhos o material moído circulava por um conjunto de ciclones, nos quais se efectuava a separação granulométrica. Cada fracção recolhida era então embalada em sacas de papel cujo peso final variava entre 18 a 20 kg, que eram cozidas à mão pela única funcionária da mina, e nas quais era pintada a identificação da empresa mineira e a designação do produto final: “Diatomite Alfar”.

 Veio sem-fim para desagregação e transporte de diatomito

 Ciclones para separação granulométrica


 Chapas para inscrição do nome da empresa e do produto “diatomite Alfar”

No interior do edifício encontra-se ainda armazenada uma grande quantidade destas sacas com os diferentes tipos de moagem que nunca chegaram a ser comercializadas. O destino final deste produto era, principalmente, para aplicação na construção civil (revestimentos e isolantes).

Embalagens de diatomito moído ainda armazenados no interior da unidade transformadora

Para além do equipamento atrás descrito é de referir a existência, em razoável estado de conservação, de um motor a fuel, cuja função principal era a de accionar o funcionamento do veio sem-fim de transporte do diatomito para os moinhos. Simultaneamente, todo o calor produzido pelo funcionamento do motor era recuperado e utilizado para aquecimento da calha de transporte de modo a secar alguma humidade existente nos blocos de diatomito e a impedir que o veio encravasse. Por outro lado, este motor fazia funcionar um gerador que, para além de alimentar os motores eléctricos dos moinhos, fornecia energia eléctrica para todo o edifício.

 Motor a fuel fonte de energia da mina

Do ponto de vista didáctico e cultural, o jazigo de diatomito de Amieira apresenta um excelente exemplo da importância da Geologia para a Sociedade através da demonstração do aproveitamento de materiais geológicos, e constitui simultaneamente um local com elevado interesse em termos de Arqueologia Industrial.
A Mina de Diatomito de Alfarim apresenta, assim, um elevado interesse patrimonial sob vários aspectos e justifica claramente a tomada de medidas que possam permitir a sua preservação, manutenção e posterior divulgação através, por exemplo, da sua musealização. No entanto, alguns dos principais obstáculos à protecção do local prendem-se com questões de propriedade, tanto do terreno como da concessão mineira, e com outras relacionadas com projectos de utilização previstas para a área (classificada em carta de ordenamento do plano director municipal como “espaço para equipamentos”).
Deste modo, só a intervenção conjunta de várias entidades, desde a autarquia local ao CN, passando pelo ex-IGM (INETI) e, certamente, pela colaboração dos próprios proprietários o terreno e da exploração, tornará viável a salvaguarda deste rico património geológico-mineiro. Uma nota final para o registo da acelerada degradação da Mina de Amieira, com a queda de parte do telhado durante o último Inverno, o que torna cada vez mais premente a realização de acções de recuperação e manutenção do edifício.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A Rua Alto da Carona em Alfarim

O Círio de Nossa Senhora do Cabo foi realizado pela primeira vez em 1430.
O Círio, é a romaria de uma comunidade ou população a um santuário "de destino", como paga de uma "promessa colectiva" ou de uma "promessa antiga", uma peregrinação, sendo obrigatório o percurso e a passagem por determinados lugares.
A comunidade através de iniciativas diversas, como peditórios, arrecada os fundos necessários à realização da romaria.
No santuário "de destino" venera-se a imagem de uma santa. Esta imagem ficará à guarda de um dos círios, isto é, de uma das comunidades envolvidas no culto, em casa do juiz, que também arrecada e conserva as insígnias e outros bens que fazem parte da romaria.
Este depósito transitório da santa, geralmente com duração de um ano por cada círio, termina com o transporte em romaria da imagem até ao santuário.
Para venerar Nossa Senhora do cabo, estavam agremiadas em Confraria vinte e seis freguesias do termo de Lisboa: S. Vicente de Alcabideche, S. Romão de Carnaxide, S. Julião do Tojalinho, S. Pedro de Penaferrim, Nossa Senhora da Misericórdia de Belas, Santa Maria de Loures, S. Lourenço de Carnide, S. Pedro de Barcarena, S. Pedro de Lousa, Santo Antão do Tojal, Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, Nossa Senhora do Amparo de Benfica. S. Domingos de Rana, S. João das Lampas, Nossa Senhora da Purificação de Montelavar, Nossa Senhora de Belém de Rio de Mouro, Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora de Belém, Ascensão e Ressurreição de Cascais, Santíssimo Nome de Jesus de Odivelas, S. Martinho de Sintra, S. Pedro de Almargem do Bispo, Santo Estevão das Galés, Nossa Senhora da Conceição de Igreja Nova, S. João Degolado de Terrugem, S. Saturnino de Fanhões, Santa Maria e S. Miguel de Sintra a que se acrescentariam outros círios, como os da Caparica, Seixal, Arrentela, Almada, Palmela, Azeitão e Sesimbra, Setúbal e Coina.
Cada uma destas freguesias tinha à sua guarda, durante um ano, a réplica da Imagem da Real Capela do Cabo, ficando obrigada a custear as festas realizadas em sua honra.
A celebração de Nossa Senhora do Cabo dá-se em Setembro.
O culto de Nossa Senhora do Cabo sempre foi particularmente acarinhado pelos membros da Família Real Portuguesa, sabendo-se que os Duques de Bragança (futuro D. João VI) e D. Miguel foram juízes do círio, respectivamente em 1784, 1796 e 1810.
Também a rainha D. Maria II mandou fazer uma bandeira com a imagem da Senhora do Cabo bordada a ouro e o frontal de altar usado na cerimónia de casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans pertencia ao santuário do Cabo Espichel.
Todos os anos a Imagem era trazida a Belém, seguindo depois por via fluvial até à outra margem, onde se organizava o famoso círio que a acompanhava ao Santuário do Cabo.
Os festejos, a que acorria sempre uma multidão de romeiros, duravam cinco dias consecutivos, tendo início na terça-feira que antecedia a Ascensão. Nesse dia, o círio saía de uma determinada freguesia, que tinha por obrigação depositar a imagem da Senhora do Cabo na capela de Nossa Senhora das Dores, em Belém.
Na quarta-feira, a imagem atravessava o rio em direcção a Porto Brandão, sendo transportada por escaleres da Casa Real e saudada pelas fortalezas com uma salva de vinte e um tiros.
Após o desembarque, formava-se de novo o cortejo que seguia à beira-mar atá ao santuário do Cabo Espichel, onde a imagem era aguardada por festeiros e mordomos.
No século XVIII, as festas incluíam espectáculos de ópera e de touros, aos quais assistia a Família Real. Relata frei Cláudio:
" Foi o Senhor D. José (...) com toda a Família Real, A Nossa Senhora do Cabo, fazer a festa do costume, e ahi se fizeram funções Reaes dignas de tal Monarcha. Mandou este Senhor para comodidade dos Romeiros, que se armassem barracas por detraz das casas que estão no Arraila da parte do Sul, as quaes vierão da fundição, e todos ficarão muito bem acomodados. Mandou dar desasseis bois de bodo, e não quiz que se alterasse nada do costume. Foi toda a Corte a tão luzida funcção, em que houverão três tardes de toro. Correndo toda a despeza por conta de sua Magestade, nada mais dependeo a Confraria do que pagar ao Capellão./ El rei nosso Senhor mandou fazer concertos, e reparos nas casa precisas, renovou tudo, e enriqueceo a Fabrica com os ricos ornamentos, bordados (...) que se conservão no Thesouro do Paço de Belém onde está o mais que tem dado suas Magestades e Altezas quando tem servido.He digna de memoria a generosidade com que este grande Monarcha concorreo para se fazer a obra da casa de água, de que necessitava aquela terra, permittindo fazerem-se humas tardes de touros na Junqueira cujo producto era applicado para a dita obra, dando o mesmo Senhor do seu bolcinho muitos mil cruzados."
Segue-se uma descrição da romaria de 1784, em que foi juiz do círio de Queluz o futuro D. João VI:
" Os festeiros embarcavam em Belém nas galeotas e faluas reais e desembarcavam em Porto Brandão onde o povo os esperavam com foguetes e morteiros. Enquanto a Torre de Belém dava as salvas de estilo, o cortejo dirigia-se à Capela onde os "Anjos" três crianças vestida à romana, cantavam as "loas". Em seguida organizava-se o cortejo a caminho do Cabo ao som de música, foguetes e repicar do sino pela seguinte ordem; à frente seguia no meio de grande cavalgada o juiz da festa, empunhando a bandeira do círio, depois os três "Anjos" montados em cavalos brancos. Atráz seguia a Berlinda com a Imagem da Santa cercada por cavaleiros empunhando velas, depois ia o carro com os Padres, outro com procuradores e finalmente a galera da música. Na cauda seguia o povo em dezenas de carros de toda a espécie, com os mais variados ornamentos, que formavam uma alegre e extensa fila."
No século XIX, a ida ao Cabo passou a realizar-se de quatro em quatro anos sem que, no entanto, se interrompesse a transferência solene da uma freguesia para outra. A Implantação da República e a nova mentalidade então vigente quebraram a tradição secular do círio que, na opinião de muitos autores, se encontrava praticamente extinto desde 1851, quando Sintra deixou de cumprir as suas obrigações.
Desde então, a Imagem foi vítima de graves mutilações, para só agora ser restaurada e restituída ao culto. 
Como a distância entre as freguesias era grande, a condução da Imagem fazia-se numa berlinda (Coche), processional atrelada a duas parelhas e sempre acompanhada de inúmeros carros, cavalos e lanceiros. Esta Berlinda (Coche/Carruagem), imponente e artisticamente valiosa é oferecida à Imagem de Nossa Senhora, pela Família Real Portuguesa, por volta de 1740, pela devoção e padroado da Real Capela pertencer à Casa do Infantado.
Para finalizar esta pequena análise, em Alfarim existe ainda hoje uma Rua chamada Rua Alto da Carona, por onde seguia o sumptuoso cortejo com a Imagem da Senhora, integrando diversos carros, os criados cedidos pela Casa Real e a própria Família Real, em direcção ao Cabo Espichel.
O povo esperava por boleia ou carona, (um termo brasileiro, que passou a ser muito utilizado, após o regresso da família real do Brasil), para seguir em peregrinação para o Cabo Espichel.